quarta-feira, 22 de junho de 2011

New Retro

A revista EmbalagemMarca (EM) trouxe esse mês uma reportagem muito interessante sobre a crescente tendência do renascimento de antigas embalagens. Visuais antigos têm sido resgatados, mas com um toque de atualidade. EM explicita que embalagens retrô de sucesso precisam estar sintonizadas com a tecnologia contemporânea, trazê-las de volta não é simplesmente o ato de retirá-las do baú. É o visual vintage somado a todos os benefícios da tecnologia moderna.

Embalagem Pepsi Throwback renascida: sucesso internacional de vendas, fórmula e imagem resgatadas do passado. A versão vintage tinha data certa de expiração, a lata trazia os dizeres "por tempo limitado", mas devido ao sucesso, entrou no portfólio definitivo da Pepsi.

É uma tendência já fortalecida nos EUA e na Europa e começa a se firmar por aqui. Estrategicamente posicionado, parte do retrô busca trazer um conforto psicológico, um retorno a tempos de menos pressão e rigor, que ganha ainda mais expressividade nos países fortemente atingidos pela recente crise. A nostalgia, a ideia de que o passado foi melhor, reviver os "bons tempos" que tantos de nós ouvimos de nossos avós e pais quando crianças e que só mais tarde entendemos. Tudo isso contribui para o sucesso e permanência desses produtos.

Doritos - mais um case internacional de empresas que tiraram da gaveta antigos desenhos de embalagens para recolocar nas prateleiras das lojas.

Um dos aspectos mais importantes que fazem o sucesso de um produto retrô é a preservação da simplicidade do design e não só o fato de ser fiel ao seu antepassado. Brian Collins, diretor do escritório de design americano Collins, diz que esses elementos gráficos "trazem uma simplicidade intrínseca, típica da estética das décadas passadas".

A autenticidade, a simplicidade, a identidade, a associação, a independência e a diversão são quesitos relevantes para qualquer geração e devem ser consideradas como pontos importantes na formação de estratégias de lançamento de produtos retrô. O retrô possibilita descobertas e redescobertas,  seja experimentada como nostalgia pelos mais velhos ou como novo, diferente e genuíno pelos mais novos.

Lava-roupas Tide que também ganhou versão retrô nos EUA. Roupagem antiga, mas performance moderna.

Um produto inteiramente fiel ao do passado é um produto ultrapassado e não retrô. Um verdadeiro produto retrô bem-sucedido é aquele que consegue reviver apresentando adaptações aos padrões atuais.

Outro importante ponto que tem sido comum nos atuais produtos retrô é a construção de comunidades na internet permitindo aos consumidores interagir, experimentar, trocar sensações e divulgar, a fim de atingir um grande número de pessoas, conquistar novos seguidores e sem dúvida, alavancar as vendas.

A Schincariol criou para a Itubaína dois blogs na internet com músicas retrô e games, além de perfis no Orkut, Facebook e Twitter.

No Brasil também já foram lançadas séries de embalagens retrô, a Neltlé é uma das grandes referências nessa tendência por aqui. Pensando no potencial de vendas, a empresa lançou no início de 2010, cinco embalagens históricas de Leite Moça: as de 1937, 1946, 1957, 1970 e 1983. Entretanto é possível perceber que o shape exclusivo acinturado utilizado atualmente, consquista permitida pela evolução tecnológica, foi mantido. Além disso, o produto atual não foi retirado do mercado, aliás esse seria um grande erro, pois há uma considerável parcela de consumidores cativos das embalagens contemporâneas e não podem ser esquecidos. Há sempre aqueles que gostam das coisas como estão e não recebem tão bem mudanças como essas.

Leite Moça - versões de 1922 até hoje, embalagens retrô estimulam colecionadores.

Visual retrô em shape moderno acinturado, visual vintage e shape conquistado pela tecnologia moderna.

Nescau também é outro exemplo, manteve o shape singular retorcido com visuais de 1932, 1960, 1986 e 1998. A Nestlé preferiu não informar números segundo reportagem da EM, mas garantiu que a ação foi um sucesso de vendas.

As embalagens retrô com edição limitada de Nescau incluem até versão de logo quando era escrito com "o" no final, "Nescao" de 1932. O visual também ganha selo comemorativo de 90 anos da instalação da 1ª fábrica da Nestlé no país e mantém shape retorcido diferenciado, benefício permitido pelas novas tecnologias.

O visual retrô também estimula os colecionadores que, claro, não se contentariam com um ou outro exemplar. Colecionador de verdade faz tudo por uma coleção completa e nada mais conveniente do que ter todos os modelos disponíveis nas prateleiras dos mercados, prontos para serem comprados.

Não é difícil perceber que a nostalgia está em alta. São inúmeras as festas temáticas de décadas passadas. É bastante fácil encontrar nos fins de semana eventos flashbacks tais como as "Festas Plocs" nas grandes capitais. Se você já foi a uma, deve ter percebido a agitação com o toca-toca de músicas antigas e como os salões ficam lotados.

A Ambev também entrou na onda flashback relançando a Antarctica Original, criada em 1906.

Há ainda empresas que buscam resgatar usos e materiais passados, mas em produtos novos e sem visual gráfico retrô. A embalagem de leite Top Mild lançou garrafas de leite em PET cristal inspiradas nas garrafas de vidro vendidas antigamente, verdadeiros ícones nostálgicos que dominaram o mercado de leite no Brasil até boa parte da segunda metade do século passado.

Frasco em PET revive antigas garrafas de leite em vidro, mas mantém decoração contemporânea.

Campanhas promocionais por tempo limitado para testar o mercado é uma boa medida para os mais cautelosos. Assim é possível verificar a aceitação do produto e em casos de sucesso, lançá-las sazonalmente ou mesmo mantê-las definitivamente.

A Bauducco aproveita para resgatar elementos visuais antigos em determinadas épocas do ano como é o caso dessas latas de panetone.
Lata produzida para o Natal decorada com motivos antigos. Também relembra a tradição e a história da marca, sem dúvida um diferencial de peso.

A satisfação das carências sentimentais dos consumidores expressa em entusiasmantes números de vendas comprovam o estímulo da compra por impulso e atendem as expectativas empresariais e varejistas. Contudo não basta empolgar-se com previsões e números e sair "pipocando" embalagens como se fossem antiguidades, velharias sem vigor, sem expressão e personalidade. É preciso saber reviver o clássico, ter apoio de marcas fortes, tecnologia de ponta e a dose certa de criatividade.

3 comentários:

Camila Assis, MSc. disse...

Interessante esse movimento de resgate ao passado! Justo agora [e bem provavelmente por isso] que as barreiras caíram e o mundo globalizado nos coloca à disposição diferentes culturas, pessoas, idéias, designs, nós percebemos o quão importante são nossas identidades e nosso passado. Se pra nos distinguirmos nesse mundaréu de gente e coisas nós recorremos a nossa raiz, a nossos antepassados, é bastante razoável que as empresas o façam diante de tanta concorrência. Sem contar que em um mercado onde as possibilidades criativas podem parecer escassas o design retrô pode ser uma excelente escolha. Meu voto é para que essa tendência não vire um regra, afinal coisas novas são sempre ótimas e benvindas !! Muito legal o post Vanessa!!

Vanessa disse...

Também concordo que não pode ser uma regra, tanto que o atual convive ao lado do antigo, pelo que vi ninguém teve coragem de retirar o atual do mercado, deixando só os nostálgicos, acho que isso seria um grande erro. O mais legal pra mim é a nostalgia, eu mesma lembro muito das embalagens de Nescau que, embora eu não gostasse nada da bebida, minha irmã tomava no café da manhã, comíamos juntas antes de vermos Show da Xuxa. rs rs Pode? Mas marcou minha infância! Boas lembranças...

Letícia Martins disse...

Vale o resgate, Vanessa. A era retrô está nas embalagens e nos aparelhos eletrônicos também. Hoje você compra (por um preço lá em cima) televisão vermelha, "gordinha", tela arredonda. O tipo televisor antigo. É do ser humano querer voltar às origens.